quinta-feira, 26 de novembro de 2009

** Homossexualidade e Sexualidade na Bíblia **


Um ponto em conflito

O desafio de qualquer tratado exegético no campo da sexualidade ou da homossexualidade é sua capacidade de alcance e compreensão dos fatores culturais, éticos e religioso que formam a cultura de um povo. Tentar aprofundar uma reflexão neste campo significa poder penetrar todas as esferas de um conjunto de crenças, costumes, leis e tradições, dentro das quais são traçados os perfis de um “modus vivendi”. É preciso reconhecer que aqui se constitui a dificuldade maior. Sempre que alguém volta para o passado, os arquétipos atuais e sua visão da história cultural podem condicionar sua pesquisa e volta ao passado. Nosso estudo visa oferecer uma reflexão sobre as questões da sexualidade e homossexualidade, como contributo para uma visão desta temática na Bíblia.

A homossexualidade é conhecida na linguagem antiga como uranismo (A origem do termo “uranismo” para caracterizar o homossexualismo é obscura. Platão afirmava que Urânia era a ninfa gerada por Urano, mas sem mãe. Urânia era a senhora do universo, representada com um globo terrestre em suas mãos. Ela tinha uma varinha, com a qual indicava a direção dos astros. Outra fonte da origem do nome pode vir da mitologia de Urano, o deus do cosmos, filho de Gea (terra), para outras filho do Mar. Segundo Cícero, Urano é pai de Vênus com Hémera. Mais tarde, Urano é mutilado por Cronos e das gotas de seu sangue nascem gigantes e ninfas (Cf. Spasa Calpe, “Uranos”))
inversão genital. Na tradição mitológica antiga eram conhecidos dois tipos de “uranismo”: a) a inversão artificial, que significava apenas um vício da relação homossexual; b) a inversão- perversão, considerada uma degeneração mental. Dentro destes dois campos, há inclinações para o homossexualismo com rejeição ao sexo oposto e há outra forma de homossexualismo que é a indiferença ao sexo oposto. Para estes, a vida sexual normal produz um cansaço, repulsa e até impotência. A partir desta situação, instala-se um comportamento genital anômalo. O amor uranista (invertido) é uma caminhada normal, na esfera psíquica, uma vez que ele possui todas as fantasias, caprichos, bem como paixão e violência. Na prática, no entanto, se efemina nos homens e se masculiniza nas mulheres. Estudos revelam que a vida sexualpervertida dura enquanto subsistir a força genital.

As origens do homossexualismo permanecem desconhecidas, mas a mitologia antiga já conhecia esta forma de comportamento. Platão definia três formas de ser humano: a) o homem; b) a mulher; c) o heterógino. Na composição do ser humano, ainda dentro da mitologia helenista, os seres tinham duas faces, quatro mãos, quatro pés, dois sexos, cada qual na posição inversa (era um duplex). O ser cujos dois sexos fossem masculinos era homem; os dois sexos femininos era mulher e havia uma terceira opção, que tinha um sexo masculino e outro feminino (heterógino). Assim fazia-se a explicitação da homossexualidade dentro da cultura grega. Uma briga de Zeus com os humanos provocou o castigo dos mais fracos. Zeus tomou os humanos e os partiu pela metade, misturando suas partes. Daquele momento em diante, cada parte busca sua outra metade no desejo de reconstruir a felicidade original2. Os que tinham os dois sexos masculinos, .procuram outro homem como sua metade original; os que tinham os dois sexos femininos, buscam uma mulher e os que tinham dois sexos diferentes, procuram o sexo oposto para realizar seu complemento.

O homossexualismo é conhecido igualmente nas culturas romana e judaica. No código de ética judaica, o comportamento homossexual era considerado um desvio de conduta gravíssimo, sofrendo penalidade capital: “Se um homem se deitar com outro homem como se fosse com uma mulher, ambos cometem uma perversidade e serão punidos com a morte – são réus de morte” (Lv 20,13). Na cultura romana, o apóstolo Paulo faz referência a este estado ético que, para seus esquemas mentais, era uma afronta ao estado natural: “Por isso, Deus os entregou às paixões aviltantes: suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza; do mesmo modo os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo neles mesmos o preço da sua aberração” (Rm 1,26-27).

Desta forma, nota-se a antigüidade do homossexualismo. A cultura grega cria mitos para explicar esta forma de comportamento. A cultura romana cria leis jurídicas para coibir a incidência destes casos e o judaísmo estrutura um código de ética que insere a pena máxima. No entanto, a homossexualidade, independentemente de aceita ou condenada, constitui-se, ainda hoje, um fenômeno obscuro, uma trilha sinuosa e sem saída.

1. A educação familiar na formação da sexualidade

A educação familiar é o elemento primário na formação de uma sociedade. É na esfera familiar que se encontram os resquícios de uma moral doméstica. Esta configura uma compreensão da pessoa, homem ou mulher, no seu comportamento social. A paidéia (educação) grega procurava integrar os indivíduos numa forma comum de compreensão e visão de família, sociedade e mundo. Numa afirmação de Diógenes, a educação é graça para o jovem, consolo para o ancião, abundância para o pobre e ornamento para o rico (Diógenes, Laertius, vi, 68). Para muitos mestres antigos era preferível ser cego do que não ser educado ou poder freqüentar uma academia. Na dimensão helenística do pensamento, a educação conduz à virtude, e esta torna-se uma arma que jamais pode ser abandonada ou perdida (Diógenes, Laertius, vi,12-13).

As sociedades antigas, especialmente as ocidentais, pregavam uma moral familiar monogâmica. No entanto, quer na Grécia antiga e mesmo na tradição judaica, eram conhecidos os costumes de um homem ter uma mulher oficial e muitas concubinas, as quais moravam sob o mesmo teto e tinham os mesmos direitos que a mulher oficial. Os filhos desta conviviam com os filhos das concubinas sem diferenças, com a única restrição de que, salvo exceções, os filhos das concubinas não herdavam bens diretos. O adultério pesava sempre sobre a mulher, uma vez que para o homem esta prática era um certo direito.

a) A administração doméstica
A teoria da oikou nomia (lei da casa) foi educando a mulher para uma esfera interna do lar, ainda que, como escrava, ela tivesse que cultivar os campos e tomar conta dos rebanhos (cf. Ct 1,5-6).
“Tanto quanto possível, as moças eram separadas dos rapazes e cultivadas em suas casas na absoluta ignorância de tudo o que se passava no mundo”. A mulher nas culturas antigas era educada a não se inteirar dos assuntos do marido, nem mesmo das relações comuns entre as famílias. “Quando a família recebia um convite para visitar outra, os homens e as crianças podiam ir, mas, salvo exceções, as mulheres ficavam em casa. E quando os homens tinham uma mulher como convidada, em sua casa, a esposa não podia participar da companhia”.

b) O matrimônio na sociedade israelita
Herdeira da cultura babilônica e egípcia, a sociedade israelita proclama o matrimônio como monogâmico (uma só mulher). O Código de Hamurabi (por volta de 1700 aC) determinava que o casamento do homem seria com uma única mulher. Ele só poderia tomar uma segunda esposa (convivendo com a primeira) se a primeira fosse estéril8. Na tradição israelita patriarcal (cf. Gn 12-50) encontra-se o caso de Abraão que, por Sarai ser uma mulher estéril, tem a permissão de tomar uma serva egípcia, chamada Agar, para prolongar sua descendência (Gn 12,5ss). Mais tarde, a primeira esposa Sarai lhe dá Isaac, que passa a ser o filho da promessa (Gn 17,17-19).

Na sociedade israelita, a filha não-casada está sob a tutela do pai, e a esposa sob a dependência do marido.

c) O paradigma da monogamia

O relato da Criação de Gn 2,21-24 apresenta o homem casado com uma só mulher, assim também são casados alguns patriarcas como Noé (Gn 7,7); já Lamec tem duas mulheres (Gn 4,19). Todo homem deveria ter uma só mulher diante da lei, mas poderia ter outras, não oficiais, que fossem livres ou escravas, em um número tal que ele as pudesse sustentar seus filhos.

Na própria tradição patriarcal bíblica encontram-se exemplos de poligamia (diversas mulheres). Jacó trabalha sete anos como pagamento por Raquel, mas é enganado pelo sogro que lhe dá a irmã mais velha, Lia. Ele trabalha mais sete anos para conseguir a esposa de seus sonhos, mas acaba ficando com as duas irmãs por esposas
(Gn 29,15-30). No período da monarquia, os reis de Israel tinham uma só esposa oficial, mas tinham muitas concubinas. A monogamia era apenas uma questão de fachada. O número de mulheres era tão grande e variado como os desejos e possibilidades do homem. No início da legislação judaica não havia limites. “Numa tentativa de regulamentação tardia, o Talmud fixava em quatro mulheres para um homem comum e dezoito para um rei. Na verdade, era uma questão absolutamente teórica”. De igual modo, nas famílias islâmicas, o número de mulheres é relativo ao poder econômico do homem. Neste aspecto, a legislação social depende exclusivamente dos direitos do homem.

2. A educação religiosa na família

A moral doméstica determina, aos poucos, a moral religiosa. Diante de situações concretas e existenciais nascem imperativos morais que se transformam em padrões de comportamento religioso. Muitas vezes, dentro de uma conflitividade pessoal ou comunitária acontece o surgimento de uma apocalíptica religiosa, uma certa luta
entre as forças divina e humana, entre a fé em Deus e os temores de Satã. Nestes tumultos existenciais, muitas vezes, elaboram-se as teses principais da Transcendência, de Deus e do ser humano.

Na esfera religiosa, a tradição veterotestamentária encontra a reforma de Esdras (Esd 9-10), que institui a lei da raça pura e os direitos de divórcio pelos mesmos motivos. Abre-se, a partir do séc. IV aC, uma ruptura ainda maior na sociedade judaica quanto à segregação dos sexos e ao tratamento da mulher. Aos poucos, esta forma de procedimento passa a tomar o caráter de cultura, sendo introjetado na educação religiosa familiar e comunitária.

3. A educação social – a sexualidade da mulher a serviço do Estado:

Na esfera social, a sexualidade está muito vinculada ao casamento, às relações familiares referentes à pratica do casamento e à finalidade última das relações sexuais. No mundo helenístico são encontrados diferentes conceitos, de acordo com as escolas de pensamento e também de acordo com os períodos históricos. Uma teoria pregava o casamento para os “maduros”, descartando os outros: “Para o jovem, ainda não; para o velho, não mais”.

Na esfera social, a mulher estava a serviço do Estado, enquanto ela emprestava seu corpo para gerar filhos para a guerra, para a defesa do rei e para a guarda dos palácios dos nobres (Cf 1Sm 8,11ss). O casamento, na teoria platônica, tinha como finalidade principal gerar filhos para o Estado. A finalidade do matrimônio era apenas homologar a legitimidade dos filhos na relação sexual. Os filhos das concubinas e as próprias concubinas participavam em tudo da vida familiar, mas não tinham os mesmos direitos que as mulheres oficiais e os filhos das mesmas.

Na esfera social, a mulher recebia um espaço que não era espaço. Ela tinha uma área de comando (os cuidados da casa e dos filhos) que não era poder. Ela, dentro de casa ou fora dela, dependia sempre do seu esposo. Por isso, a estrutura social criava uma separação e segregação dos sexos, que não era outra coisa senão submissão.

4. A sexualidade a serviço de interesses:

Todas as culturas antigas incentivavam o casamento e condenam, paralelamente, o celibato e a esterilidade. O casamento servia para evitar aquilo que nenhuma aceitava: o lesbianismo e o homossexualismo, ainda que presentes em todas elas. O celibato masculino e mais ainda o feminino era mal visto, em virtude destes perigos. Para evitar que jovens indecisos retardassem sua opção pelo casamento, os gregos criavam as gymnopedias (danças nuas). Essas danças provocavam os jovens a assumirem o matrimônio na fase central de sua juventude. Pesavam sobre esses interesses os temores dos desvios da sexualidade.

Se o não-casamento dos rapazes era perigoso por propiciar o surgimento de vícios, o celibato das moças era impensável. As guerras, as calamidades e as pestes dizimavam mais homens do que mulheres. Nisto, o ventre materno era visto como o receptáculo da continuidade da espécie, da descendência e do povo. Uma mulher que recusasse casar e ter filhos era considerada amaldiçoada por Deus. Na verdade, em sociedades androcêntricas, cabia à mulher os papéis de ser escrava do lar, de gerar filhos e de trabalhar.

5. As reações contra o androcentrismo bíblico

A sociedade israelita, particularmente no tempo da reconstrução das tradições com Esdras, estabelece regras próprias no relacionamento com a mulher. Se no pré-exílio as coisas não eram favoráveis à mulher, depois ficam piores. O período da reconstrução de Jerusalém, conhecido como a “reforma de Esdras”, serviu para que um grupo de sacerdotes e rabinos estabelecessem como regras básicas para a mulher sua dependência absoluta do marido. A família determinava com quem a moça podia casar. A expressão erótica do amor era impensável, particularmente por parte da moça. No entanto, a sexualidade, que desempenha um papel importante na formação das relações humanas, tornava-se um pesadelo, uma frustração e um tédio. É na sexualidade que o ser humano expressa a integração das forças e potencialidades que permitem a sensação do fator erótico. Desta forma, o livro dos Ct declama o corpo e suas partes como o espaço do amor. O ser humano não tem corpo, ele é corpo. “O corpo é o ser, em sua totalidade e em todas as suas expressões, que passa do eros ao agápe”.

a) A mulher como propriedade da família

No Decálogo (Ex 20,17), a mulher é tratada como uma das posses do marido. Ela não tem existência em si mesma. Ela só existe na submissão ao pai, se solteira; na submissão ao marido, se casada, e na submissão ao seu patrão, se escrava. A mulher não se pertencia. O seu destino estava nas mãos de seus possessores. Assim, neste livro dos Ct ela reclama: “Não me olheis com desdém, por ser morena! Foi o sol que me queimou, pois os filhos da minha mãe, aborrecidos comigo, puseram-me a guardar as vinhas, e a minha própria vinha não pude guardar” (Ct 1,6). Os irmãos (homens) tinham ascendência sobre as irmãs e atribuíam às mesmas as tarefas de cuidar dos campos, dos rebanhos de cabras, expondo seu corpo ao sol, ao calor e ao frio, sem condições de cultivar sua beleza. O tempo da mulher cuidar do seu corpo é trocado pelo tempo que ela fica nos campos.

b) A mulher, sexo e divórcio

Com a reforma de Esdras, no período pós-exílico, o judaísmo
“puro” torna-se o símbolo do judaísmo elitista e excludente dentro da tradição deste povo. A lei dos matrimônios passa a ser a lei da raça pura. Argumentando razões de culto, de fé e de obediência aos estatutos, Esdras e os sacerdotes responsáveis pela restauração judaica excluem todos os que não eram legitimamente judeus. Por princípios raciais, determinam que todos os judeus casados com mulheres não judias as mandem embora dando-lhe a carta de divórcio (Esd 9-10).

A família, castradora dos sentimentos dos jovens, moças e rapazes, passa a ter outro elemento para oprimir mais estes sentimentos. A ganância dos irmãos por dinheiro faz logo pensar na forma de comercializar os sentimentos das moças: “Temos uma irmãzinha, ainda não tem seios. O que faremos por nossa irmã, quando alguém pedir sua mão? Se ela é uma muralha, vamos construir-lhe ameias de prata; se é uma porta, vamos reforçá-la com pranchas de cedro” (Ct 8,8-9).

c) Sexualidade = manipulação e frustração

Em sociedades onde a formação dos jovens está nas mãos de interesses, a sexualidade sofre perturbações e desvios. O livro dos Ct é o melhor exemplo bíblico das manipulações da sexualidade determinadas pelos interesses familiares ou políticos. De um lado temos a ganância dos irmãos, os quais não se perguntam se a irmãzinha vai ser feliz ou não, mas se perguntam pela quantia que podem ganhar. Do outro está o rei – ou os ricos – que, com seus direitos de semideus, pode pedir qualquer moça para seu harém no palácio. Qualquer moça que esteja num átrio de concubinas será sempre uma concubina. O amor pode vir misturado com o vinho, licores e perfumes, mas a cama na qual ele se complementa no ato sexual, será sempre a expressão da exploração, será sempre uma cama fria. O beijo, manifestação sensível do amor, expressão do desejo da paixão, não será manifestação de alguém que ama, mas de alguém que explora. Se os perfumes, fragrâncias e vinhos criam um ambiente de deleite, sensualidade e ternura (Ct 1,3; Ez 16,8;23,17; Pr 7,18), a frieza do amor pode produzir o desconforto, o tédio e a frieza sexual.

Em algumas culturas antigas, os gestos afetivos de saudação eram reprimidos por serem considerados obscenos. Em outras, os gestos afetuosos podiam ser manifestados, mas em alguns lugares reservados. Gaiser afirma que os costumes variavam: “No antigo Egito, o contato de dois corpos era pela aproximação dos narizes, o qual servia mais a uma função de cheirar que de tocar. Mas no Oriente Próximo, até onde os documentos nos permitem recuar, os amantes se beijavam nos lábios. No mito sumério de Enlil e Ninlil, a virgem Ninlil afirma: ‘Meus lábios estavam tão próximos (no encosto dos narizes) e no entanto eu nunca fui beijada’. Algumas pinturas sumérias mostram os amantes beijando-se nos lábios. No mito ugarítico de Shacar e Shalin, El aparece unido a duas mulheres”.

Um outro elemento a ser observado é a chamada espiritualização da sexualidade. De modo particular na leitura do livro dos Ct foi um fator marcadamente unidireciona. A interpretação mística do texto fez ver que a vinha da amada é a Lei eterna, o Deus de Israel, a Assembléia de Israel ou o nome do Eterno.

d) O confinamento dos sentimentos e o homossexualismo

A felicidade não pode ser comprada ou vendida. A antropologia do amor perpassa todas as esferas e estruturas do ser humano. É preciso deixar que o amor, a afetividade e a sexualidade acordem no seu tempo correto (Ct 8,4). Despertar a sexualidade de modo interesseiro, usá-la para ter proveito econômico ou por interesse provoca distúrbios comportamentais na vida.

Sobre a moça pesam os preconceitos da virgindade, da pureza e da castidade. Ela tem a obrigação de apresentar o selo da integridade física, ser um jardim fechado, uma fonte lacrada (Ct 4,12). E para manter toda essa estrutura de castração e dominação ela tem que usar o véu. Este serve para esconder, velar e cercear. Na festa de núpcias, ela se apresenta ainda velada ao seu noivo, mesmo para indicar que não se havia revelado a ninguém (Ct 4,1.3; 6,7). Ela, ainda que esposa do rei neste Cântico, jamais é mostrada como rainha. Ela recebe elogios, ela é formosa, mas não recebe o título. Para Tournay, no folclore árabe da Síria, uma jovem que desposasse um rei, poderia automaticamente considerar-se rainha.

O amor é forte como a morte. Esta expressão revela a força do amor e os perigos dos seus desvios. Este amor mal orientado se transforma em ciúme e em desequilíbrio. O amor e a paixão profundas jogam com os extremos. “Guardai-vos, pois, de esquecer a aliança que o Senhor, vosso Deus, fez convosco, fazendo imagens ou figuras de tudo o que o Senhor vosso Deus vos proibiu. Porque o Senhor vosso Deus é fogo abrasador, é um Deus ciumento” (Dt 4,23-24).

Um juramento de amor envolve uma totalidade e não as partes. Se esta totalidade entrar em crise, o amor pode transformar-se em ódio, vingança, destruição. “Põe-me como um selo sobre teu coração, como um selo sobre teu braço. Porque é forte o amor como a morte, e a paixão é tão violenta como o abismo: suas centelhas são incendiárias, são labaredas intensas” (Ct 8,6).

Conclusões:

A questão da homossexualidade está ligada a um conjunto de fatores que envolvem o problema da afetividade e sexualidade. A homossexualidade é uma realidade presente em todos os tempos e culturas. Ela resulta de algum fenômeno biológico, mas se transforma numa fonte de ciúmes. A moral judaica condena a homossexualidade
(Lv 18,22), como condena a esterilidade, o onanismo e o celibato por não gerarem filhos e não prolongarem a descendência (Gn 15,15;16,1; 1Sm 1,3-7; Sl 127,3). Toda a relação sexual deve ter como meta procriar. O ato sexual não pode ser compreendido como prazer carnal, mas como ato gerador de vida. A sexualidade é um fator integrador da personalidade e das expressões da pessoa na sua relação com a sociedade. Em qualquer aspecto que ela se desintegre, ela compromete o convívio comunitário e social.

Isidoro Mazzarolo
CENTRO DE ESTUDOS ANGLICANOS – CEA
PUC-Rio

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